Yoga e a Higiene
Patañjali, grande sábio do Yoga, descreve a limpeza no sutra 40 do segundo capítulo de prática do Yoga Sutra obra central para o estudante e professor de Yoga segundo a visão Indiana e pelo Governo Indiano ainda hoje em 2022, o sutra é:
शौचात् स्वाङ्गजुगुप्सा परैरसंसर्गः ॥४०॥
śaucāt-sva-aṅga-jugupsā paraiḥ asaṃsargaḥ ||40||
higiene interna e externa das próprias partes, desprezadas para os outros a não associação
Segundo Krishnamacharya importantíssimo Yogi globalmente o comentário a esse Niyama na obra Yogasanagalu (2) de 1972 menciona:
“Limpeza na alimentação, nos prazeres, nos esportes, no banho, no corpo, na mente e em outras atividades, tanto nos aspectos internos quanto externos – isso se chama pureza.”
Mais especificadamente acerca de itens a seres descartados em alimentação e prazer Krishnamacharya menciona na obra Yoga Makaranda de 1936 já alertava explicitamente(3):
“Alimentos que devem ser evitados (…) álcool, narcóticos viciantes (…) alimentos gordurosos e fritos devem ser evitados.”
Contemporaneamente na literatura científica atual é comprovado o perigo, risco e até morte por uso de Ayahuasca:
“O uso da ayahuasca está associado ao risco de eventos psiquiátricos e não psiquiátricos, incluindo alucinações, agitação ou agressão, vômitos, convulsões e rabdomiólise. Cinco fatalidades foram relatadas na literatura após o uso da ayahuasca. (4)”
O Yoga pelo contrário pode reduzir o uso e desejo desse tipo substâncias segundo pesquisas científicas (5) o que evidencia o não envolvimento do Yoga com esse tipo de atitude:
“E a maioria dos estudos sugeriu o papel da Yoga na redução do uso de substâncias, bem como do desejo relacionado a substâncias (especialmente em transtornos por uso de nicotina) em curto prazo.”
Yoga na tradição de Patanjali, Krishnamacharya, Sivananda e na visão do autor não permite, desautoriza e alerta para o NÃO USO de drogas lícitas ou ilícitas sem indicação médica incluindo álcool, cigarros ou qualquer outro tipo de fumaça, inclusive não aconselhe nem o Yogi sequer perto do fogo que produz fumaça, ou mais contemporaneamente fumaça de caminhão ou poluição pois afetam os alvéolos pulmonares danificando-os que são de vital importância a saúde do ser humano. Além disso drogas que alterem a consciência menos ainda ao praticante não é autorizado nem indicado pois há risco de saúde e vida, segundo a literatura científica supra mencionada (4) e poderá perturbar os sentidos tirando-o do estado de correto de conhecimento e do funcionamento normal dos sentidos que é importantíssimo ao Yogi para sua atenção e também dentro da Medicina tradicional Ayurveda, mencionado explicitamente por Patanjali no primeiro capítulo e é de vital importância para ser humano:
प्रत्यक्षानुमानागमाः प्रमाणानि
pratyaksha-anumāna-āgamāḥ pramāṇāni ||7||
conhecimento correto é a percepção direta dos sentidos, a inferência e o testemunho das escrituras e professores ||7||
विपर्ययः मिथ्याज्ञानमतद्रूपप्रतिष्ठम्
viparyayoḥ mithyā-jñānam-atadrūpa-pratiṣṭham ||8||
conhecimento errado (ilusão) é o falso conhecimento pois é diferente da forma estabelecida (verdadeira). ||8||
Nada que gere ilusão é útil ao Yogi ou a Yogini. Para que ele possa:
हेयं दुःखमनागतम् ॥१६॥
heyaṃ duḥkham-anāgatam ||16||
superar o sofrimento futuro
Na antiga obra Svetasvatara Upanishad a importância da saúde já era mencionada explicitamente (5):
लघुत्वमारोग्यमलोलुपत्वं वर्णप्रसादः स्वरसौष्ठवं च ।
गन्धः शुभो मूत्रपुरीषमल्पं योगप्रवृत्तिं प्रथमां वदन्ति ॥ १३॥
Vitalidade, boa saúde e diminuição dos desejos, brilho no corpo e fala refinada,
corpo sem odor, elimina doenças do trato urinário e rins, são os primeiros sinais daquele que pratica yoga adequadamente.
Na obra Hatha Yoga Pradipika de Svatmarama ele menciona na definição de Ásana (6):
“Tendo feito asana, obtém-se estabilidade (firmeza) de corpo e mente; ausência de doenças e leveza (flexibilidade) dos membros.”
Conclusão:
Na visão do autor Yoga é uma prática pura e de purificação para a saúde explicitamente. E desencoraja qualquer envolvimento do aluno com drogas lícitas ou ilícitas, alteradores de consciência externos e até mesmo poluição e outras formas que possam afetar a saúde humana física e mental levando a um estado de doença ou risco de vida não devem fazer parte do Yoga como um todo. A exceção se faz para o óbvio uso de medicamentos por indicação profissional médica. Ainda mais o Yoga de Patanjali pode ser uma ferramenta para acabar com as impurezas do corpo, da mente, da tristeza e dos sentidos levando a uma liberdade dos objetos e seres externos, promovendo a superação do sofrimento através de práticas disciplinares saudáveis, regulares que promovem a saúde, inteligência e consciência pura e força física sem violência com em respeito as leis vigentes e a individualidade de cada um.
Autor:
Dado Motta (Luiz Eduardo Motta Carvalho) é Mestre, professor e Avaliador de Yoga certificado oficialmente pelo Governo da Índia, ministério de AYUSH, sob o título de “Yoga Teacher and Evaluator”, que foi avaliado e elogiado pela IYA, Associação Indiana de Yoga. É membro da (IAYT) International Association of Yoga Therapists (USA). Membro da IYA. Instrutor 500h Pleno pela Aliança do Yoga no Brasil. Formado com 500h, Diploma de licenciatura pela BA de SP, 200h por Krishnamacharya Yoga Mandiram (Índia onde foi autorizado pelo corpo docente a ministrar Yoga), Certificado pela USP MEDICINA em primeiros socorros a Adultos, Certificado em “Science of Exercise” pela Universidade de Colorado (Usa), Pranayama por AG. Mohan (India), Dhyana por KYM (India), Yoga Medicine ‘s Guide to Therapeutic Yoga, além de outras certificações de Yoga ao longo dos anos.
Referências:
1 – Patanjali. Yoga Sutra.
2 – Krishnamacharya. Yogassangalu. 1972.
3 – Krishnamacharya. Yoga Makaranda. 1936.
4 – Houle SKD, Evans D, Carter CA, Schlagenhauf P. Ayahuasca and the traveller: A scoping review of risks and possible benefits. Travel Med Infect Dis. 2021 Nov-Dec;44:102206. doi: 10.1016/j.tmaid.2021.102206. Epub 2021 Nov 14. PMID: 34785376.
5 – Sivananda. THE PRINCIPAL UPANISHADS. SvetaSvatara Upanishad. 2012.
6 – Swami Muktibodhananda. Hatha Yoga Pradipika. 1998.