Apego e rejeição – na prática as reflexões dos Sutras I-12 a I-15

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Apego e rejeição – na prática as reflexões dos Sutras I-12 a I-15

Em prática as reflexões dos Sutras I-12 a I-15

 

A prática do yoga é definida como um processo continuado. O Sutra 1:12 define que os extremos : perseverança e desapego podem ser vistas como complementares ao invés de opostas. São ambas necessárias para irmos ao encontro de um equilíbrio. A aparente contradição fala sobre o fato de que, quanto mais caminhamos em direção a um pólo, mais temos que trazer para perto o segundo. Em outras palavras sabemos que muito desapego pode gerar letargia, incerteza, dúvida, preguiça etc.

 

Felizmente isso é contra-balanceado por perseverança. Muita perseverança gerará uma prática forçada, agressiva, ambígua, egoísta, mas será equilibrada pela perseverança. Esse caminhar com foco paciente no caminhar gerará bons frutos desde que não se criem estagnações ligadas ao ato de agarrarem-se a alguns aspectos durante a jornada.

 

Perseverança gerará constância e consistência que darão lucidez nos tempos de dificuldades. Fará com que enxerguemos o prazo longo de nossos sonhos e fortalecerá a nossa fé e autoconfiança. Criará um reservatório interno que nunca estará completamente cheio pelas práticas e nunca vazio pelas demandas mundanas. A prática construirá e adicionará mais reserva de equanimidade, energia , paz e calmaria. A constância fará a criação de momentum raros que nos auxiliarão a superar obstáculos.

 

A autoanálise e circunspecção criada pelo desapego nos ajuda a identificar formas de mudar para melhorar e adaptar ao invés de permanecer estagnada em uma prática que antes era adequada, mas na atualidade não mais. O apego é facilmente identificável nas formas de objetos, realizações, metas e não tão simples em relação a metas espirituais e qualidades pessoais internas.

 

Em exemplo prático à esse latente “cabo-de-guerra” interno pode-se tomar a prática de asana e sua disciplina como um termômetro para esse conceito. Alunos novos que chegam à prática do Iyengar com vigor e alegria, de forma geral, caminham rápido nos primeiros anos preliminares sem colidirem nos paredões dos pólos da preguiça ou dos excessos. Depois de certo termo da prática (que pode ser depois de um até três anos) podem ocorrer algumas variações de percepção interna do alunos em relação aos ensinamentos introjetados no organismo pelos asanas. Uns aceleram demasiadamente com excesso de apego em conquistar determinada asana tal como padmasana ou sirsasana e acabam por se machucar. Outros acabam se frustrando com o que acabam recebendo de seus corpos físicos como resultado de esforço de performance de asanas e acabam a entrar em estados de mais preguiça perante as práticas. Outros chegam à um patamar de ganho de bem estar ou energia e não se interessam mais em evoluir, por assim dizer ,e acabam estagnando as suas práticas.

 

Vejam que a forma de resposta à disciplina do yoga e absorção de seu néctar é absolutamente individualizada. Tão somente um bom professor ou mesmo pessoas próximas dos praticantes poderia fazer algum tipo de crítica a respeito da dita evolução. Uma vez eu escutei de um professor sênior pertencente à primeira geração de alunos de guruji mencionar que alguns de seus alunos podiam com suas disciplinas fazer muitas coisas belas em termos de execução de asanas etc e tal; mas ele igualmente apontava que muitos desses seguiam com a mesma bagagem condicionada de padrões de atitudes e campo emocionais bastante tóxicos. Entendendo a própria vida de cada praticante como sendo o espelho de seu mundo interno faz-se necessário sinceras pausas e silêncios para que cada um possa exercitar a sua capacidade de extravasar limites, de mudar atitudes e de reengajar-se em uma vida nova dentro a mesma vida. Não se trata de esperar por um milagre vindouro de algo catártico advindo por e exemplo da boa execução de um asana ou a vivência do prana permeando os tecidos dos pulmões. Trata-se de observar-se a cada momento internamente perante o cenário que se revela à nossa frente para ter a clareza de discernir pelos meios de colheitas mais satwicas.

 

Que cada praticante possa engajar-se na compreensão mais profunda do que é que está ligando-o à sua prática (qual o impulso adjacente) que confere ao mesmo uma pseudo segurança ao apego à prática; e também na compreensão do que é que esta sendo rejeitado para criar uma falsa ilusão de segurança intimidade.

 

Boas reflexões e práticas. Nesse ensaio também devo crédito às vivências de reflexões de Carol Kremmer.

 

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